terça-feira, 9 de agosto de 2011

Uma vida vivida até aqui - cena 2

Aos 6 anos de idade iniciei os estudos de piano. Três vezes por semana, uma hora e meia de aula. Um ano preparatório para entrar no estudo do instrumento. Nossa, como cansava. Teoria...Solfejo (de costas para o piano)...Tocar, o mais importante para mim... ficava para depois dos estudos teóricos. Um absurdo!
Porém, quando comecei a tocar, foi indescritível. Sonhava que tocava memorizando as notas. Naquela época não era fácil ter um piano e só quando completei 12 anos ganhei um de parede, antigo, liindo meu piano!
Tocava dia e noite... Meu cachorro me acompanhava cantando, dependendo da música. O que gostava mesmo era de ouvir uma música e tirá-la de ouvido... Porém me era proibida essa façanha. Somente podia tocar estudando as partituras. Passei a odiá-las... Mesmo quando as estudava té saber de memoria e não ter que enxergá-las durante as apresentações ou provas...ficava terrivelmente irritada com aquelas folhas brancas, riscadas pela professora, indicando coisa alguma...
Aos 13 anos fui contemplada no Conservatório com a permissão de tocar no piano de dentro da casa de minha professora e diretora da escola, Dona Aracy Yrulegui. Era ótimo quando ficava sozinha... Ensaiava só o que gostava...Claro...Música Popular (de tangos a chorinhos...uma delícia!). Aos 14 anos não quis mais tocar. Fugi das aulas e disse aos meus pais que não desejava mais fazer aulas de piano. Estava emburrecendo ao invés de tocar melhor... Nada podia. Acabaram concordando, não tiveram saída. Mesmo com os pedidos da Diretora, nada mesmo, sem negociação. Até que 6 meses depois, eu pedi para voltar. Porém deveria ser dentro de minhas próprias condições. Não faria provas, exames, qualquer coisa do tipo para provar para alguém que sabia tocar. Queria apenas tocar e ser orientada a tocar melhor. Todos aceitaram. E assim foi até os quase 16, quando mudei-me para Porto Alegre. Organizaram uma grande despedida, na audição de final de ano na Prefeitura de Livramento. O encerramento ficou a cargo de um professor da escola de acordeon que tocava muito bem o piano, o Jorge (saudade... mudou-se logo para outro mundo). Três acordeons com piano. Estava realmente no ceu tocando meu instrumento. Foram três peças: Dois tangos, claro, os quais aprendi com meu pai, e o tico-tico no fubá. nunca esquecerei ese momento. Meu pai assistiu escondido fora do salão (algo fora do normal mesmo...) e quando terminamos fomos ovacionados.
Saí dali correndo para ver o que diria meu pai...
Nada, absolutamente nada.
Chorei muito.
Nunca mais toquei o piano.

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