terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Apenas estudando o italiano...

Questo silenzio dentro me
Vi è una inquietudine
Non è possibile
Lo so.
Chissà un giorno
No soffrire più
Dolci sono i momenti i nostri
Anche così lontano 
Sembra che siamo così vicini
(preciso de mais vocabulário...)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O dia de dentro e de fora

Amanheceu hoje um ceu azul.  Azul celeste, realmente celestial.
Cada amanhecer na vida de todos deveria ser assim. Só é incompreensível que o tempo, ao passar, transforme o colorido de fora e de dentro. De fora, visível; de dentro, dolente. De um ceu azul, em pouco tempo passou ao cinza, com suas várias tonalidades: do claro ao escuro. Sinto um cansaço em todos os aspectos de minha vida. Porém, algo me  sustenta, algo me impele para frente, e é de dentro, não de fora. Não entendo como uma tristeza pode incapacitar corações humanos, tão fortes que são ao enfrentarem as vicissitudes da vida. Não entendo porque amo, sei que amo. Amo o que foi e o que não foi. Mais que isso, amo o que pode ser, ou não.
Não importa.
Ah! Queria poder fazer ser, mas não sei como.
Como diz Gonzaguinha...Eu apenas queria...

E por aí vai.

Amanhã o dia será azul celeste novamente.
Se não for amanhã, depois de amanhã.
Sem problemas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mais um pouco de divagação...É o que acontece no final de ano...sempre...

Amizade, contrução de vínculo. Certo, sem dúvida alguma.
Mas, para construír-se o vínculo, pressupõe-se que dois seres sofram e sintam através dos sentidos a tal daquela força estudada em Física, a atração. Atração de semelhanças ou de opostos, tanto faz...Pois, de uma forma ou outra há um atrito, uma identificação, ou admiração que seja. 

Pedaços de Letras 4

A solidão é nada
sempre vem na hora errada
em que eu não a quero aqui

Que solidão que nada,
eu preciso é ser amada,
eu preciso é ser feliz
...

Já que o tema Amor apareceu...um pouco sobre ele, sempre é bom.

“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.” - Clarice Lispector - 


“Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão… que o AMOR existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim… e que valeu a pena!” - Adriana Britto -


“É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado” - Guimarães Rosa -


“Importar-se com outra pessoa abre a possibilidade para se magoar com as falhas ou ausências dessa pessoa. Para nunca sofrer é preciso nunca amar.” - Léa Waider -


“O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la à beira de um precipício.” - Sthendal -

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

´Só as mulheres amam' - José Pedro Goulart

Li, reli, li de novo...
Gostei do que li.
Nessa onda de acharmos que nossa sociedade muda o tempo todo, apresenta-se com uma memória curtíssima, encara problemas sérios como aspectos 'normais' da vida dos indivíduos, achei uma coisa que penso nunca ter mudado...As mulheres amam e amam muito. Sim, sem dúvida!
Amamos e talvez nem saibamos o quanto amamos. Pior que isso é que os alvos de nosso amor, carinho e afetos infinitos não se dão conta disso. Lástima. Como uma amiga nova, mas que parece ser de sempre, disse-me hoje mesmo:
Alguns parecem tão estúpidos...
Talvez não se faça necessário sermos tão enfáticas ou radicais assim. Os admiro profundamente, mas...realmente...às vezes...

Melhor lerem.

Gastei uma vida sem saber - e de repente esse pensamento se instalou em mim feito uma bactéria oportunista: só as mulheres amam. Aos homens, esse é um benefício relativizado. O homem luta pelo amor da mulher, disputa esse amor; e quando o recebe, sacia-se, lambuza-se com ele, liga o plugue que a natureza lhe deu na cavidade receptora que natureza deu a ela e recarrega a si de energia vital. Parece recíproco, mas não é.
Eis o papel da mulher no mundo, produzir amor. Tal como a selva amazônica produz oxigênio. Ao homem cabe decifrar e devorar. Decifra com poemas, canções e poréns. Devora com o verbo, engole com a palavra. Pinta quadros, cria partituras, filosofa. Enquanto o homem cria, a mulher gera. A mulher olha, entende, e perdoa. Por amor. O homem não olha, não entende e, se perdoa, é por conveniência.
E não é só em casamentos tradicionais. Veja o caso da Igreja - entre freiras e padres, quem de verdade esta ali em renúncia por amor? Uma freira não reza a missa, não batiza ou recebe confissão. Ama apenas, sobre todas as coisas. Inclusive sobre sua própria condição de oprimida. Da mesma forma que uma ama é capaz de amar o filho de outra mulher como se fosse dela. (Existem babás homens? Existe professor de primário?)
Mas há obstáculos. A sociedade neurotizada por objetivos eminentemente masculinos exige avanços, conquistas. É o suplício da submissão coletiva. Todos dizem que é preciso ter um norte. Como o ímã de uma bússola apontando sempre para lá. Quem inventou a bússola? Fosse uma mulher e uma bússola apontaria para o sul - de lá é que vem os ventos que espalham a vida. (E giraria todos dias entre os quatro pontos cardeais.)
E há o silêncio. E isso é o mais notável. Só uma mulher consegue amar onde não entende. Entender significa apalavrar. A palavra sempre é menos que o sentido. A palavra é um choque de realidade. E quem quer saber da realidade? Quem são os suspeitos de racionalizar as coisas? A realidade condena, o delírio liberta.
Não, não sou ingênuo, sei o quanto uma mulher pode usar o amor ao reverso. Como sei da secura que vem da resistência. Mas este não o meu ponto aqui. De modo que declaro que estou ciente dos riscos que corro ao dizer que pertenço a tribo dos inaptos. É que minha consciência se elabora quando me disponho.
Portanto, convoco aos senhores para que entreguem as armas. Senhoras, por gentileza, assumam. O caos reina onde o amor desaparece. E alguém duvida do caos?
Twitter: @ZPgoulart

José Pedro Goulart é cineasta e jornalista