domingo, 9 de outubro de 2011

Sou toda ouvidos (quem me dera...)

Diz um certo autor, e dou-lhe toda razão, que o maior desejo das pessoas é que sejam escutadas, tranquilamente, calmamente. Não querem conselhos, apenas o silêncio da escuta bonita, vejam bem: escuta bonita!
Nós amamos, não a pessoa que fala bonito, mas a que escuta bonito".
É preciso escutar para falar bonito. Entendo isso... É como se o amor nascesse do silêncio da escuta e morresse na atrapalhação da Não-escuta (assim entendo o que diz Rubem Alves). A doença hoje está no nervo central da necessidade de serem escutadas elegantemente. Se não falamos é porque não há quem nos ouça mais.
Amamos porque falta em nós  o que é pleno, por isso precisamos amar, para nos sentirmos completos. E mesmo asim, não acontece essa tal de 'completude'.
Amar, portanto é fazer silêncio, como aquele silêncio ao ouvirmos uma obra musical, no teatro. É o silêncio esse que muitas vezes incomoda que nos faz prestar atenção no que é mais importante, e não em tudo. Quando ouvimos, apreciamos uma peça musical, se ficarmos atentos a todas as suas partes, temas, melodias, começa assim, desenvolve-se de tal forma que ...Ao final o compositor busca o tema principal e ... Nada disso. Devemos nos entregar a toda a obra de tal forma que nos inunde de sentimentos, que nos absorva em sua plenitude, com tudo.
Só assim, escutaremos o essencial; perceberemos o que significa a essência da obra, que provavelmente foi feita sobre as vestes do amor.

Ouçamos Fernando Pessoa:

Cessa o teu canto.
Cessa, porque enquanto
o ouvi, ouvia
uma outra voz
como que vindo nos interstícios
do brando encanto
com que o teu canto
vinha até nós.
Ouvi-te e ouvi-a
No mesmo tempo
E diferentes
Juntas a cantar.
E a melodia
Que não havia
Se agora a lembro,
Faz-me chorar.

Devemos aprender a sentir a música e não a entender as palavras.

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