quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"Cartas a um jovem Terapeuta" - Contardo Calligaris

Doutor em Psicologia clínica, italiano, vive na ponte aérea NY - SP e colunista da Folha de S.Paulo, claro, é o autor deste livro que vos apresento. Esclarecido de forma clara no título, trata-se de cartas escritas para jovens que desejam ser profissionais na área da psicoterapia.
Não me vejo nessa função. 
Primeiro por não ser tão jovem ao ponto de não saber muito bem o que quero e segundo, por saber exatamente o que quero. Sofro de claustrofobia. Consultório é um local apavorante...Além disso, a sociedade precisa de uma atuação mais direta, pontual, nas comunidades, nas escolas, nos grandes grupos.
Bom, mas voltemos ao assunto principal.
Logo ao iniciar a leitura do exemplar comprado na estante virtual, percebi uma certa (profunda, na real) preocupação do autor quanto ao desempenho destes jovens que pensam, gostam, ou de leve, ao passarem os olhos sobre as páginas de uma revista de autoajuda, interessam-se por essa área profissional. Esclarece de forma contundente que para ser Psicoterapeuta é uma questão de "nascer para", ter determinadas características quase que inatas (lembro-me aqui de certas passagens de minha história de vida em que muito ouvia: nasceu para ser músico...nasceu para ser uma grande artista). Como dizia um grande professor: Tudo "Bullshit". O Grande Maestro Eleazar de Carvalho conheceu e ouviu música erudita pela primeira vez aos 17 anos de idade. Foi um dos grandes nomes da música erudita no Brasil.

Algumas ideias no livro do Contardo são interessantes, que configuram um 'estilo' em Psicologia como: 
* A psicoterapia, para acontecer na direção da obtenção da cura por parte do paciente, deverá apoiar-se nas palavras trocadas, no diálogo entre paciente e psicoterapeuta e nas relações que a partir disso se construam. Esses vínculos e a forma como serão construídos são importantíssimos para que a confiança, o respeito e a cumplicidade conduzam o processo de obtenção (ou não) de cura de maneira saudável, ou melhor, desde que não o piore...está ótimo.
* O autoconhecimento por parte do psicoterapeuta é de extrema importância. Este não deve cristalizar-se em seu conhecimento já adquirido. O autor sugere que constantemente deva perguntar-se: "Em que, nesse caso, poderia eu ser um auxílio ao paciente?"
*  O paciente alimentará, durante o  processo terapêutico, sentimentos variados com relação ao psicoterapaeuta, porém o sentimento de confiança (mútua) que, por um lado é excelente para chegar no caminho da cura, e por outro é imprescindível ter consciência dos limites desse vínculo para que as relações entre ambos não se mantenham eternas, prolongando desnecessariamente (e aqui podem entrar sérias questões éticas) o processo terapêutico.
*  Importante vislumbrar que a postura de um terapeuta deve ser de curiosidade e ao mesmo tempo sem prévios julgamentos (nem póstumos...), pelas situações expostas. O autor evidencia situações consideradas polêmicas na sociedade em que vivemos e que comumente são trazidas no tratamento, sendo assim, o psicoterapeuta precisa desvestir-se de preconceitos totalmente, sendo esta uma atitude que venha a fazer parte de sua vida, para sempre.


Todo fazer profissional está ligado ao fazer político-social, mesmo que desconhecido seja para quem o exerça. Por incrível que pareça, torna-se hoje imprescindível esclarecer alguns aspectos apresentados no livro que provavelmente para tantos que o leram, e neste momento para mim, soaram óbvios no então fazer psicoterápico.
É sabido que em todas as áreas, os jovens experimentam um pouco daqui, um pouco dali, esquecendo a responsabilidade profissional, esquecendo o comprometimento social e, neste caso, o comprometimento ético-profissional com relação a saúde de seres humanos. Talvez os jovens pensem que possa ser fácil  ser um psicanalista, já que se trata de escutar e falar de vez em quando, assim como devem achar que deva ser fácil ser professor, pois é só “passar” o conhecimento que já existe em algum livro.  Até aqui tudo bem. Mas, nas entrelinhas há uma generalização de que para todo o jovem que não possui determinadas características delineadas por ele (o autor), "é aconselhável" eleger outra área de atuação.
Não concordo.
Durante a leitura tive a sensação de estar folheando um tipo de “manual” que mostra dificuldades, problemas, satisfações e questões a respeito do lado financeiro-profissional, além de compensações pessoais que são possíveis de se obter com a escolha da profissão de psicoterapeuta.

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