domingo, 27 de setembro de 2009

In Trutina (ária soprano- Carmina Burana)



In trutina mentis dubia
Em equilíbrio
Fluctuant contraria
No meu hesitante equilíbrio
Lascivus amor et pudicitia
Desejo oscila com a modéstia
Mas eu escolho aquilo que vejo


Sed eligo quod video
Baixo a minha cabeça ao peso da canga
Collum iugo prebeo
Pois apesar de tudo, o fardo é doce
Ad iugum tamen suave transeo
Por isso carrego-o sobre mim.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Eu não tenho cabelos vermelhos e o meu vestido não é amarelo. Eu sou só uma menina invisível, deitada na grama invisível que a moça que não sabia desenhar, não desenhou. Aquele é o menino que eu não lhe falei. Ele sempre está preso num único instante; o instante em que o moço que sabia desenhar, o desenhou.

O balão que subia as nuvens, com várias crianças chamando, teve de desviar o caminho, pois não fazia parte desse desenho. O avião que trazia uma faixa, com linda declaração de amor, teve de mudar a rota, pois neste céu azul é que não foi desenhado. O pombo-correio que veio voando de fora da imagem, bateu o bico na borda e caiu. Por isso, o menino está sempre só.

Se as crianças do balão não conseguiram. Se o avião também não conseguiu. Se nem o pombo-correio teve sucesso, como é que eu, uma menina invisível, feita de palavras, poderia chegar até ele? Foi o que passei dias e dias pensando. Então, numa de minhas viagens, ouvi dizer que uma imagem valia mais do que mil palavras. Não tive dúvidas. Abri a oficina invisível, acendi as luzes transparentes e comecei a construir este imenso abraço de palavras. De mil e duas palavras. Para, um dia, entregar a ele.

rita apoena

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

DESPEDIDA

estou triste


perdi um amigo


quando se perde um amigo


daqui ou de lá


se perde um pedaço do coração


mesmo que vá com ele


doi


boa viagem Maestro Motta


um abração da amiga que não é de Pelotas...


mas é de Livramento

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Para mim!

Quando em Educação existe a possibilidade de não acontecer,
ou até de quase acontecer, o coração entristece.
Gostaria de ser mais do que posso ser em aula.
Não dá!
Tranca tudo quando entra no âmbito familiar.
Os estudantes precisam de saúde mental, de saúde afetiva,
foge ao meu alcance,
escapa de minha mão como água pingando aos poucos.

"Ainda pior que a convicção do não
é a incerteza do talvez
é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda
que me entristece, me mata
Trazendo tudo que poderia ter sido
...e não foi"

Sarah Westphal

Para Rubem Alves

"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tá brincando!

Algumas coisas não podem ser mudadas
(bem que eu tento)

Alguns sentimentos devem ser ignorados
(não consigo, faz parte de mim)

Algumas vontades devem ser diluídas pela razão
(o que é razão mesmo?)

Alguns amigos devem ser esquecidos, pois se vão
(tá brincando...nunca conseguirei esquecer)

Algumas paixões devem morrer na beira do mar
(preferiria morrer agora mesmo)

Alguns amores devem se afogar na corredeira
(até pode ser, mas só depois de tentar)

Algumas mãos nunca poderão ser tocadas
(nossa, que desperdício, é tão bom!)

Alguns beijos nunca poderão ser dados
(tem certeza? nem ao menos numa despedida?)

É assim mesmo!
Algumas coisas não podem ser mudadas
(não acredito nisso, tudo muda, nós mudamos, SEMPRE)

Fernando Pessoa


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ele,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ele adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que o estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..