C'era una Volta ... Uma cidade do Sul do RS, fronteira com o Uruguay. Ali me disseram que nasci na Santa Casa, de parto normal após duas tentativas de minha mãe mal sucedidas em ter filhos. Como o 3 é um número importante, então vim ao mundo. Disseram-me que fui muito desejada por meus pais, avós, tios e ... só, já que acabei sendo única em tudo (única neta, única sobrinha, ahh...única filha tbm). Bem... Como ambas famílias eram uruguaias e meus pais casaram-se do lado de lá, bom... sobrou que aprendi primeiro o espanhol (quase que junto com o Italiano) e depois o português para falar com minhas amigas e colegas, pois estudei do lado de cá... Meus avós paternos moravam em Montevideu e sempre íamos: férias; feriados... até que por um tempo vieram morar mais perto de nós. Quando vieram, tínhamos um programa todos os domingos: matinê no Cine Gran Rex de Rivera que hoje não existe mais. Por incrível que pareça, pegou fogo e nunca mais o reconstruíram. Os outros cinemas que vieram depois do lado brasileiro viraram espaços para grandes seitas, Igrejas, como quiserem, se encontrarem em cultos coletivos. Hoje ainda existe, o qual foi revitalizado em outro espaço que não o original, o Cinema Internacional. nunca fui ali... Mas, nas matinês dava de tudo: Desde teixeirinha, Cantinflas aos faroestes americanos e musicais antigos.
Minha avó materna era uma senhora rueira, gostava de pitar um cigarro de noite na casa dos vizinhos. Sim, ela tinha uma agenda e cada dia era a vez de uma casa da vizinhança para ir conversar até perto da meia-noite. Pois eu só dormia quando ouvia o portão do lado ranger e sentia os passos de minha vò Blanca chegando. Sua casa ficava atrás do pátio da nossa, e atrás da casa dela tínhamos galinheiro, cachorros e... até cordeiros criei ali... Puxa...saudade disso...
Ok...continuando... Com meu pai falava espanhol, com minha vó Blanca (uruguaia) falava português, com minha mãe também (professora da escola estadual na qual eu estudava, mas nunca fui sua aluna...ainda bem ehehe. Com 'mis abuelos, claro, espanhol e também italiano con mi Tata.
Minha mãe tem uma história um tanto triste, pois foi 'dada' aos 7 anos de idade aos padrinhos, aos quais quando nasci, passei a chamá-los de avós também. Meu avô materno morreu tocando bandonion nos bailes de campanha...que coisa...34 anos. Minha Vó Blanca não conseguiria cuidar de dois filhos e meu tio com 14 anos nessa época, saiu para trabalhar entregando cartas, primeiro à pé, depois ganhou uma bicicleta do Alceu Collares, que trabalhava com ele.
Toda a família sempre, de alguma forma, foi amarrada à música: minha mãe foi professora de acordeon; meu pai tocava piano numa orquestra de Tango e minha avó paterna era uma soprano lírico, e suas irmãs todas eram cantoras ou pianistas. Uma delas morreu ali, no piano mesmo, tocando ...
Pois não é que com 6 anos eu já tocava piano... Porém, meu 'método' não agradava meu pai. Gostava de tocar de ouvido, improvisando e ele ficava furioso. Depois de alguns anos, acho que uns 6, tentei parar de tocar mas ninguém me deixou. Nem mesmo os professores de piano, do colégio, os amigos... Pressão total, quase fugi de casa... Aliás ...fugi, sim. Ninguém meachou por uma tarde inteira, até de noite... Fiquei com a consciência pesada e apareci... Estava dentro do armário da minha vó, na casa de trás...Enganei toodo mundo...Já estavam nas rádios, no Parque Internacional... Um rolo só...E eu...adorei tudo...
Meus finais de semana eram no campo, na chácara, plantando, pegando vagalumes, passarinhos (soltando todos eles depois), tocando o gado (umas poucas cabeças), o Touro me tocando...(esse cara não gostava de mim... sempre foi assim, umas boas vezes lá saía eu, correndo daquele safado...)
Na rua que morava brincávamos muito de noite, meus vizinhos queridos e lindos e os amigos da quadra. As brincadeiras da noite eram de esconder, pois é... Eu morria de medo até que um dia me sacanearam e o cara da bolsa estava atrás de mim enquanto contava até 100, encostada na camionete rural do meu vizinho. Deus, nunca mais brinquei com eles... saí na disparada, nunca que me pegaria o barbudo com um sorriso sarcástico no rosto.
De dia, as carretas passavam para deixar o leite que vinha de campanha. Carretas com 4 bois, no mínimo, fazendo aquele som aterrorizante. Então, vejamos... Touro...carretas...o velho da bolsa... Só tinha pesadelos com isso e muitas vezes terrores noturnos terríveis... Ouvia sons de pessoas subindo as escadas... Minha mãe falava alto demais e me assustava à noite... Hoje... por que será que não durmo como deveria???
(não sei que capítulo será este... mas poderia dizer, primeiros anos de uma vida vivida... a minha...)
Bueno, continua... afinal ainda estou viva, bem viva!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário