quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

De uma amiga para mim.

Tudo o que é belo tende a ser simples.
Afirmação generalizante?
Não sei.
O que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade. Basta observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. Vida que se ocupa de ser só o que é.

Não há conflito nas bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedades nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem do viço quando é chegada a hora. São simples.

Não querem outra coisa, senão a necessidade de cada instante. Não há desperdício de forças, não há dispersão de energias. Tudo concorre para a realização do instante. Acolhem a chuva que chega e dela extraem o essencial. Recebem o sol e o vento, e morrem ao seu tempo.

Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade.
A semente é simples porque não se perde na tentativa de ser outra coisa.
É o que é. Não desperdiça seu tempo querendo ser flor antes da hora.
Cumpre o ritual de existir, compreendendo-se em cada etapa.

Já dizia o poeta: "Simplicidade é querer uma coisa só".
Eu concordo com ele. O muito querer nos deixa complexos demais.
Queremos muito ao mesmo tempo, e então nos perdemos no emaranhado dos desejos.
Há o risco de que não fiquemos com nada, de que percamos tudo.

Aquele que muito quer corre o risco de nada ter, porque o empenho e o cuidado é que faz a realidade permanecer. O simples anda leve. Carrega menos bagagem quando viaja, e por isso reserva suas energias para apreciar a paisagem.
O que viaja pesado corre o risco de gastar suas energias no transporte das malas. Fica preso, não pode andar pelo aeroporto, fica privado de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que trouxe.

A simplicidade é uma forma de leveza. Nas relações humanas ela faz a diferença.
O que cultiva a simplicidade tem a facilidade de tornar leve o ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua atenção no que é acidental, mas prende os olhos naquilo que verdadeiramente vale à pena.

Pessoas simples são aquelas que se encantam com as coisas menores.
Sabem sorrir diante de presentes simbólicos e sem muito valor material.
A simplicidade lhe capacita para perceber que nem tudo precisa ter utilidade.
E por isso é fácil presentear o simples.

Dar presentes aos complicados é um desafio. Não sabemos o que eles gostam, porque só na simplicidade é possível conhecer alguém. Só depois que as máscaras caem pelo chão e que os papéis são abandonados a gente tem a possibilidade de descobrir o outro na sua verdade.

Eu gostaria de me livrar de meus pesos. Queria ser mais leve, mais simples. Querer uma coisa só de cada vez. Abandonar os inúmeros projetos futuros que me cegam para a necessidade do momento. Projetos futuros valem à pena, desde que sejam simples, concretos e aplicáveis. Não gostaria que a morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até para morrer os simples têm mais facilidade.
Sentem que chegou a hora, se entregam ao último suspiro e se vão.

Se conseguirmos perceber que o Amor está na simplicidade dos gestos e das palavras, talvez sejamos felizes para sempre.

(...mas eu complico tudo...raios!)

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